Cada virtude tem o seu mal oposto: verdade e falsidade, coragem e covardia, compaixão e ódio, humildade e orgulho. Todos são pares de opostos. Como pode você desenvolver a verdade, senão através da luta contra o que é falso e da compreensão de que no mundo ao seu redor existe falsidade em todo canto? O que você pode fazer quando compreende a força desta realidade, senão contradizê-la e colocar-se em oposição a ela? Você jamais deixará escapar uma palavra de falsidade de seus lábios; jamais deixará um falso pensamento encontrar guarida em seu cérebro; jamais deixará que uma ação falsa desfigure a sua conduta. O resultado do reconhecimento da falsidade será o de desenvolver em você a necessária força para a verdade. Quando você luta contra a tendência à falsidade, você desenvolve crescente potencial para ser verdadeiro.
O que vem a ser a Verdade? A Verdade é Brahman; é Vida; a Verdade é a essência daquilo que chamamos de Vida Divina. Alcançamo-la no combate contra a falsidade, desenvolvendo, por assim dizer, a virtude que é o receptáculo da Vida Divina. À medida que você aumenta e amplia a sua capacidade para a Verdade, combatendo a falsidade - da mesma maneira que o músculo cresce pela prática contra o peso - você estará fazendo do seu caráter um receptáculo para a Vida Divina, aquela Vida Divina que fluirá em você em volume sempre maior, dando-lhe mais força. Assim você estará desenvolvendo aquelas qualidades da Verdade que você jamais poderia ter alcançado sem oposição, e as quais, em proporção às energias obtidas pelos seus esforços contra a falsidade, purificarão a sua natureza, tornando verdadeira a vida a qual você está desenvolvendo.
Isto também sucede como qualquer outra virtude. A coragem é desenvolvida na presença, e não na ausência, de algo que você teme. Se não houvesse objetos a dar origem à sensação de medo, então a coragem jamais poderia ser desenvolvida. Mas a presença daquilo que origina a sensação do temor aumenta a experiência da alma e gradualmente desenvolve a coragem.
[...] Poderia avaliar virtude após virtude para mostrar que elas crescem apenas diante da oposição, que no resultado dessas forças opositoras reside o valor desta energia retardatária. Aí está o valor da evolução do mal. Atua como um peso contra o esforço na direção da perfeição e, desse modo, desenvolve o potencial que impede o anelo por essas formas destinadas à destruição.
BESANT, Annie. A Vida Espiritual, pp. 137-138, Brasília: Ed. Teosófica, 1992.